Com o poder de investigar, julgar e
promover punições, órgãos fiscalizadores, a exemplo do Tribunal de
Contas dos Municípios (TCM) e o Ministério Público Federal, ligados no
cumprimento da lei de responsabilidade fiscal, sancionada em 2000,
intensificaram as ações e fecharam o cerco contra a gestão de alguns
municípios da Bahia.
Além do julgamento das contas, outras iniciativas mostram que as
prefeituras estão na mira daqueles que atuam com o objetivo de combater
irregularidades. Somente na última semana, pelo menos meia dúzia de
prefeitos passou por algum tipo de sanção por parte dos órgãos por
falharem na administração pública.
Algumas determinações foram além de respostas a processos cíveis e
caíram também na esfera criminal. Por infringirem a lei que rege sobre a
transparência, alguns tiveram até mesmo o pedido de prisão decretado
pelo MPF.
Além da presença de atos irregulares como desvios de recursos, há
falta de rigor ao cumprir critérios administrativos. Por ainda estarem
atuando, os prefeitos têm foro privilegiado e os processos criminais
estão sendo julgados em Brasília.
Um dos casos que chamou a atenção na última semana foi o do
prefeito de Sento Sé, na região do Vale do São Francisco, Ednaldo dos
Santos Barros (PSDB), denunciado pelo MPF por crime de responsabilidade e
tendo sua prisão pedida pelo órgão por não ter prestado contas à Funasa
de recursos recebidos em convênio celebrado em 2006, na administração
do prefeito anterior.
O contrato no valor de R$ 100 mil tinha como objetivo melhorias
sanitárias em Sento Sé. Segundo informações do ministério, teria sido
oferecido prazo para a prestação de contas, mas não foi cumprido. O
prefeito se defende e diz que o fato envolve a administração passada. “O
convênio foi assinado na gestão anterior, que teve início no ano de
2005.
Eu assumi o município em 2009 e informei à Funasa que o convênio
não havia sido executado na minha administração, mas o MPF entendeu que
devia nos penalizar. Creio que não tem motivo para isso, por ter tomado
as providências a tempo. Mandei representação para o chefe do órgão para
provar minha inocência”, disse o prefeito à reportagem, enfatizando o
conselho aos futuros gestores para que sempre deem atenção ao que foi
executado na gestão anterior.
Outra situação que garantiu espaço nos holofotes nos últimos dias
foi a do prefeito de Ibirataia, Jorge Abdon, que teve o pedido de bens
bloqueados pela Justiça Federal em Jequié, por ação de improbidade
administrativa. Além dele, mais cinco pessoas estão com os bens de
limite até 1,2 milhão indisponíveis, tendo que devolver os recursos aos
cofres públicos.
Em conversa com a Tribuna, o procurador responsável que atua na
Procuradoria da República em Jequié, vinculada a 54 municípios, Ovídio
Machado, disse que uma auditoria da Controladoria Geral da União (CGU)
com início em 2009, detectou as irregularidades na aplicação de recursos
do Fundeb, ocorridss nos anos de 2006 e 2007. “O gestor ainda não foi
intimado, mas ele e demais réus serão citados para oferecer a defesa”,
disse. “Por infrações deste tipo, um prefeito pode até mesmo perder o
cargo”, alerta. Além de Sento Sé e Ibirataia, receberam sentença as
prefeituras de Mansidão, Camumu, Curaçá e Itapebi.
TCM e UPB buscam orientar
O fantasma das contas rejeitadas também tem sido frequente aos
gestores, sendo a principal motivação os gastos excessivos, além do que o
município arrecada, de acordo com informações da assessoria da
presidência do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM).
Na última semana, o Tribunal reprovou as contas das prefeituras de
Mansidão e Camumu, referentes ao exercício de 2010. “Temos esclarecido
muito os prefeitos. Não é que o Tribunal está mais exigente, mas
cumprindo a lei, sendo que, constitucionalmente, lhe compete a
fiscalização da aplicação dos recursos”, diz a assessoria da
presidência.
Ainda conforme o órgão, a lei de responsabilidade fiscal tem como
pilares “o planejamento e a transparência que pode ser exercida com a
divulgação dos trâmites, a discussão em audiências públicas, pela
publicação dos balanços”, cita. No entanto, apesar da vigilância, há um
desvio de responsabilidades por parte de alguns gestores.
“Se a lei diz que 60% dos recursos devem ser usados nos salários
dos professores e 40% na estrutura da educação, o TCM vem exigir, a
partir desse princípio, que o prefeito cumpra. Alguns constroem uma
quadra de esportes e querem dizer que é investimento em educação”.
O presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB), Luiz Caetano
(PT), ratifica que a entidade tem tomado algumas iniciativas no sentido
de minimizar as irregularidades pelos prefeitos. “Fizemos um ciclo de
debates, com 12 encontros em parceria com o TCM, sendo o último agora em
Serrinha, discutindo questões, como controle interno, licitação.
Segundo Caetano, muitos prefeitos cometem erros por não conhecerem a
“linguagem da gestão pública”.
“Agora mesmo, um caso gerou rejeição de contas porque o prefeito
implantou uma secretaria nova e não fez a dotação orçamentária, o que é
necessário por lei. Esse é um tipo de erro extremamente técnico”,
afirma. Ele destaca o poder das fiscalizações, porém critica “a punição
sem direito à defesa”. “Só não achamos certo prender o gestor para
depois ouvi-lo”
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