MÃO DE FERRO

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

CPI do Cachoeira:“Tenho um sentimento de indignação pela chance perdida”, diz Randolfe


Dever cumprido e indignação. Foram os dois sentimentos externados pelo Senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) nesta terça-feira (18) durante a votação do relatório final da CPMI do Cachoeira. São 10 meses de investigações e descobertas que trouxeram à tona um esquema de corrupção com proporções muito além do que se imaginava no começo dos trabalhos desta Comissão.
Os negócios ilícitos do bicheiro Carlinhos Cachoeira com agentes públicos e privados, evoluíram para um esquema milionário de corrupção que envolvia a empreiteira Delta e governadores de estados. Pelas investigações, o maior volume de recursos recebidos pela Delta, e os depósitos identificados para empresas-laranjas não ocorreram na área de atuação do contraventor Cachoeira e sim nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Estados coincidentemente governados pelos partidos que lideraram a coalizão vencedora na votação de hoje.
Durante a votação, os parlamentares rejeitaram o relatório de Odair Cunha (PT-MG) por 18 votos a 16, e aprovaram um voto em separado do deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF). O documento de Pitiman contém duas páginas e na prática não indicia nem responsabiliza nenhum dos envolvidos.
Temendo que as quebras de sigilo de empresas-laranja que receberam repasses da empreiteira Delta revelassem mais envolvidos nesse esquema de corrupção, começaram então as articulações para sepultar de vez os trabalhos da CPMI. Primeiramente com a paralisação dos trabalhos durante o período eleitoral.
Nos últimos dias, foi formada uma coalizão composta pela bancada do PSDB para salvar o governador Perillo do indiciamento, pela bancada do PMDB para proteger o governador Cabral. Além disso, ficou transparente a existência de uma bancada interessada em proteger os interesses da empresa Delta e de todos os agentes públicos envolvidos com o esquema. Enfim uma demonstração clara do cenário desta Comissão desde seu início. Uma intensa mobilização de uns para não investigar, e outros que se interessavam em investigar apenas uma parte da quadrilha de Cachoeira e suas ramificações.
“Termino o dia com um sentimento dividido. Como parlamentar, estou com a consciência tranquila pelo dever cumprido, pois travei todas as batalhas que pude travar no espaço da CPMI. Como cidadão, tenho um sentimento de indignação pela chance perdida.”, desabafou Randolfe.
Para ele, o resultado da CPMI reforça a necessidade de ser feita em nosso país uma verdadeira “Operação mãos limpas para acabar com o financiamento privado de campanha”, reafirmando suas esperanças de que o Ministério Público Federal aprofunde as investigações que não foram possíveis na Comissão, e que os culpados sejam punidos, sejam eles agentes privados ou públicos.
“Parafraseando Ulisses Guimarães, tínhamos a chance de acender uma lamparina no meio da escuridão de impunidade, ou seja, aprovar um relatório que não contemplava tudo, mas indiciava parte dos envolvidos e remetia para investigação todas as empresas suspeitas. A maioria da CPMI optou pela escuridão, pelo reforço da impunidade. Agiram para proteger Cabral, salvaram Perillo e impediram o indiciamento de Fernando Cavendish”, concluiu Randolfe.

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