MÃO DE FERRO

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Ficha Limpa - o mais importante das eleições são os eleitores.



Na verdade, a denominada Lei Ficha Limpa, representa mais uma clara demonstração das desigualdades legais, da burocracia e das incongruências que povoam a sociedade brasileira e que, muitas vezes, colocam em campos opostos o bom-senso e a lógica que deveriam imperar na Administração Pública.
Se qualquer jovem para se habilitar, por exemplo, a um cargo público, deve ter uma escolaridade mínima e apresentar atestado de bons antecedentes, uma folha corrida “limpa”, por que para governar, legislar não precisava nada disso? Por que, simplesmente, não se estender o alcance das leis e normas que regem os concursos públicos para os candidatos a cargos eletivos?
Nesse sentido, mesmo aprovada por força de pressão popular e concebida que foi para ter um efeito saneador e, também, preventivo, no seio do Poder Legislativo, não se tem uma garantia de que essa não seja apenas mais uma daquelas leis inócuas, pois, infelizmente, somos um país “sui generis”, onde há leis que “pegam” e outras que “não pegam”.
Não podemos olvidar que, ao contrário do que acreditavam os positivistas, uma lei por si só não tem o condão de mudar o homem e, tão-só por entrar em vigor, não alterará as relações sociais.
Em verdade, já nos habituamos a conviver com a idéia de que algumas normas simplesmente não são (ou não precisam ser) cumpridas, por motivos diversos, por todos ou por alguns, pois, como nos mostra Roberto Damatta, muitos dos problemas que fazem o Brasil, Brasil, têm uma raiz em comum: a cultura.
Os políticos não nascem em chocadeiras, eles provêm da sociedade, donde se conclui que não é a política que está podre, mas sim a sociedade.
Ao longo das nossas vidas, somos corrompidos pelo modo como vamos sendo integrados à sociedade e “educados” pelas relações sociais vivenciadas desde a primeira infância até a vida adulta, bem ao estilo rousseauniano, pois, ninguém nasce corrupto ou desonesto: aprende a ser!
O processo civilizador vivenciado no universo sociocultural brasileiro, combinado ou não com uma educação formal deficiente, é o maior responsável por determinar os comportamentos, os valores e as formas como cada pessoa vai aprender a ser, a viver e a conviver, pois, “enquanto os homens exercem seus podres poderes, motos e fuscas avançam os sinais vermelhos e perdem os verdes, somos uns boçais”
Nesse sentido, como nos afirma o poeta Caetano Veloso, a política ou qualquer relação de poder, mesmo as aparentemente mais insignificantes, e em especial as que materializam o exercício dos pequenos poderes (os chamados “micropoderes”, na expressão de Michel Foucault), apenas oportunizam se conhecer a verdadeira faceta dos seres humanos. Afinal, o que se pode esperar do futuro de uma nação em que prevalece a cultura do “jeitinho” e o pensamento de que é normal querer “levar vantagem em tudo”?
Ficam as perguntas: seria mera coincidência a relação, confirmada mais de uma vez, entre família, sociedade e Estado e o caos em que vivemos? Será que a falta de ética e os maus hábitos dos grandes políticos têm berço nos pequenos deslizes e delitos que todos nós, até mesmo aquele mais humilde trabalhador, cometemos de vez em quando?
Para quem pensa que todos somos iguais apenas perante a lei, com certeza, esses questionamentos não têm sentido, mas, como nós somos iguais perante a cultura que nos molda e nos amolda, não precisamos apenas de novas leis, precisamos, sim, de uma educação familiar e escolar que desencoraje a falta de ética, o jogo sujo, o jeitinho e a desonestidade cotidiana.
Se não for assim, o Brasil continuará alimentando por muito e muito tempo essa cultura de “microcorrupção” que gera a grande corrupção engravatada e nós, os sem gravata, nunca teremos moral para reclamar.
Num passado e num presente ilibados pode e deve estar a garantia de um futuro com a “ficha limpa”. Sem isto, parodiando Caetano Veloso, continuaremos a ter que conviver com uma realidade na qual, enquanto os homens exercem seus podres poderes, sonegar, mentir, roubar, morrer e matar de fome, de raiva e de sede são tantas vezes gestos naturais.

Sem citar sigla
Sem citar bandeira política
Pior do que está
Com certeza ainda fica
Não é piada meu voto
Não é picadeiro a política
Quero governante com seriedade
Que respeitem mais a família
Família brasileira
Família sofrida
Que gosta de sorrir
Mas só sorrir não enche barriga
Só sorrir é atestado de auto-acomodação
Quero projetos sócias
Quero melhoria na educação
Quero políticos que saibam
Realmente a onde estão
Que valorizem o cargo obtido
E lute pelo seu povo como forma de gratidão
Agora cabe a nós
Elegê-los ou não
Palhaços e ladrões
Gente nossa ou fanfarrões
Fica a nosso critério
Mesmo com poucas opções.

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